quarta-feira, 20 de novembro de 2013

[COMENTÁRIO] Não sou um elefante, mas incomodo muita gente

   Este texto é uma resposta a um post de Shirley S. R., que encontrei em um site ateu. Recomendo que leia o artigo original na integra clicando aqui, somente depois leia o comentário que estarei escrevendo abaixo.

  Primeiramente gostaria de dizer que não conheço pessoalmente a autora, não tenho nada contra ela e também nada a favor, não é sobre ela que quero falar mas do texto que ela escreve e claro, os seus pensamentos que ficaram ali registrados.

   Ela começa sua dissertação com uma afirmação, “Eu sou ateia.” Isso é bom, pois ela não esconde sua crença (ou a falta dela) e já mostra que linha de pensamento o texto vai estar escrito. Quando o autor(a) apresenta sua posição no início isso já ajuda a refletir no texto sob a ótica da pessoa. Portanto a primeira vez que li o texto busquei fazê-lo sob uma perspectiva ateísta e depois li como cristão refutando mentalmente os “argumentos” ali apresentados.

“Por alguma razão que me foge à compreensão, as pessoas crentes acham muito Anormal que uma mulher – e mãe, ainda por cima – não comungue de algum tipo de crença.” 

    Eu não diria que exista aqui uma anormalidade, mas é de fato muito incomum no Brasil encontrar uma pessoa que não possua uma crença, e a autora aqui possui uma, como abaixo explicarei. Se encontrar um ateu declarado no Brasil já é difícil, uma mulher é ainda mais difícil, por exemplo, na Igreja Adventista a nível mundial a membresia é formada por 70% de mulheres. Essa realidade até onde eu conheça no Brasil, é proporcional em todas as denominações. Seria muito interessante se os ateus o Brasil fizessem uma pesquisa para averiguar em suas fileiras a proporção de homens e mulheres. Porém quero deixar registrado que encontrar uma mulher professa ateia é sim um tanto estranho, não impossível e a Shirley esta para provar isso, mas de fato algo raro.

“Pelo visto, é aceitável que eu creia em qualquer coisa, siga qualquer tipo de religião. Espiritismo, umbanda, seicho no ie, budismo, hinduísmo, esoterismo, qualquer ismo, só não vale o ateísmo.”

   Não diria aceitável, mas normal, pois é normal no Brasil crer em alguma coisa, o ateísmo é uma dessas coisas, porém “nova” em nossa cultura. Faz inclusive pouco tempo que veio a campanha “Mostre Sua Cara” entre os ateus no Youtube. Com o tempo creio que vai ser “normal” ouvir que uma pessoa não creia em nada, embora obviamente isso de fato não exista.

No devido tempo desistiram, não sem antes vaticinar que encontrarei Deus no momento oportuno, ou declarar que embora eu não acredite nele, ele acredita em mim.”

   Com um olhar ateu imagino que frases do tipo “encontrará Deus no tempo oportuno” ou “Ele acredita em você” devem soar mais ou menos como... blá, blá, blá... Mas isso não difere muito quando um cristão também ouve que “Deus morreu!” como disse Nietsche. Ou asneiras como “múltiplos-universos” como Dawkins gosta de falar para fugir da pergunta sobre os princípios antrópicos.
                                          
“Alguns outros se enfurecem comigo.”

   Isso aqui é algo imperdoável por parte dos cristãos. Um ateu não tem a obrigação de representar um Deus de amor e perdão, e por mais que um ateu provoque não cabe a nós ficarmos “possuídos” por um sentimento de raiva e o motivo é simples. Negar a Deus não é a mesma coisa que me negar. Se alguém tem um problema com Deus ou mesmo não acreditar em Deus, você como cristão deve saber que um dia odos seremos colocados diante de Deus, portanto deixe que Deus resolva os problemas dEle, isso não é papel do cristão, e não seria a primeira vez que eu pediria desculpa a alguém por erro de outro cristão.

Um tempo atrás alguém veio me mostrar uma reportagem cujo título era categórico: “Cientista prova a existência de Deus e ganha prêmio”. Lida a reportagem, descubro que o cientista é também padre e teólogo; e que o prêmio foi dado pela Fundação Templeton. A pessoa que me trouxe a reportagem veio com a convicção de que definitivamente me calava a boca.

   Aqui existem várias coisas a ser dita. Primeiro, é impossível provar a existência de Deus, principalmente se a metodologia for empírica, pois quando falamos do Deus bíblico estamos falando de Alguém que criou o Universo e todas as suas leis. A questão é: Como provar algo que esta fora do Universo, quando tudo o que conhecemos é o Universo?

   Não existe metodologia para isso e muito menos provas. O que temos e em grande escala são evidências. Mas o título “Cientista prova a existência de Deus” é chamativo apenas para atrair audiência e títulos com essa natureza você observa aos montes e nos mais diversos campos.

   Aqui agora existe um grande deslize da autora, preconceito, o cientista por ser teólogo e padre parece ser incapaz aos olhos da Shirley de produzir ciência. Esse mesmo argumento poderia ser usado para qualquer um. Por exemplo: “Cientista prova, Deus não existe”. Então vejo que o autor é Richard Dawkins e faço a observação. “Ele é evolucionista e biólogo, logo só poderia vir asneira.” Então vou olhar a fundação e vejo que ela é mais uma das tantas outras comprometidas com o naturalismo filosófico.

   Em ciência não importa quem pesquisou ou quem publicou o que importa é o conhecimento adquirido, o resto é o resto. Descriminar um artigo pela pessoa que o escreveu pelo pesquisador ou por quem a premiou é uma grande falácia e nenhum artigo sobreviveria a isso.

Minha reação foi dar risada, pois tudo – a reportagem, a “metodologia” usada pelo padre cientista, a fundação que pagou o prêmio, a presunção ingênua da tal pessoa – me pareceu de uma imaturidade sem par e, ao mesmo tempo, oportunista.

   Como não sei do artigo em si, não tenho muito que falar da metodologia que foi usada, mas se os critérios forem os mesmo usados para depreciar o artigo em si, seria por enquanto mais justo pensar que a autora esta errada do que certa sobre os questionamentos por ela levantado, se um dia puder me apresentar o artigo gostaria muito de ler e poder responder a altura.

   Mas aqui também percebemos o preconceito contrário ao que os ateus tanto acusam os crentes. Por ser um cristão o crente não pode ser cientista, por outro lado eu posso ser um adepto do naturalismo, evolucionismo, darwinismo, humanismo e outros ismos mais, mas alguns outros como o cristianismo parece ser proibido.

   Eu devo, e de fato aceito, que pesquisas feitas por naturalistas e suas interpretações seja publicadas e analisadas, mas quando o outro lado pesquisa e publica, o ateu tem todo o direito de dizer que isso não é ciência, como se alguém pudesse dizer o que é ou não é ciência e determinar o que a pode ou não dizer.

“cujo dirigente é um cristão evangélico fundamentalista”

   Agora outra gafe. Mostrando um fundamentalismo ateu até esse momento, com preconceitos típicos do ateísmo, e o cristão que é o fundamentalista!?

   Segundo o dicionário fundamentalismo é: o nome dado a movimentos, cujos adeptos mantém estrita aderência aos princípios fundamentais, ou vigentes na fundação do determinado grupo

   Não que eu discorde do fundamentalismo cristão, pois eu sou fundamentalista, mas dizer que fundamentalismo é um aspecto negativo é no mínimo estranho, já que todos somos fundamentalistas em nossas posições. O problema é se eu sou uma pessoa com a cabeça aberta para ouvir o outro lado do debate ou não, se me coloco na posição de ir para onde o argumento me levar ou não.

   Sendo franco, existem muitos cristãos “cabeça fechada”, mas eu não diria que o número de ateus, na devida proporção, seja diferente.

“no meu entendimento, não é para ser considerado sob nenhum aspecto científico”.

   Novamente ressaltando que não li o artigo pela autora citado, mas o problema é que "no meu entendimento” eu faço o que quero com qualquer área do conhecimento. Cada ramo da ciência tem sua metodologia (por ciência digo campos de conhecimento que vai de física a filosofia, biologia a teologia, química a engenharia) e uma vez que é respeitado não depende de mim ou de qualquer outra pessoa ser ou não ciência a pesquisa feita por alguém.

Se não é de causar espécie que um padre faça ciência – afinal não é exagero dizer que a genética começou com Gregor Mendel, monge, e foi outro padre, Georges Lemaître, quem primeiro propôs a teoria do Big Bang – nem por isso é aceitável que um padre, cosmólogo, se aproveite das lacunas das teorias científicas para enfiar Deus no meio, mesmo que movido pela tentativa sincera.
Pois não foi outra coisa que o padre cientista fez. Valendo-se da teoria do Big Bang e da Física Quântica, Michael Keller, conceituado cientista da Cosmologia, simplesmente disse que, na ausência de conhecimento sobre o que haveria anteriormente ao evento do início do Universo, a única conclusão possível é que o que havia era Deus e o raciocínio é aquele já muito batido: só podemos concluir que algo existe aceitando que esse algo teve um criador.

   Não sei por que alguém concluiria como prova que a causa do universo seria Deus, mas eu diria que o que podemos saber sobre o que causou o Universo é algo que possui as mesmas características do Deus bíblico sim, vou explicar aqui rapidamente depois faço um post com o argumento completo e mis elaborado.

   O argumento cosmológico parte de duas premissas:

1. Tudo o que passa a existir tem uma causa
2. O universo teve início

Portanto: O universo tem uma causa.

A primeira premissa pode ser defendida simplesmente com a Lei da Causalidade, que é a base de toda a ciência. Você observa o relâmpago e estuda o que causa ele. Você observa a maçã caindo da árvore e estuda o que faz a maçã cair. Eliminar essa lei é acabar com a ciência.

A segunda premissa pode ser defendida por vários argumentos: Teoria da Relatividade de Einstein, Teoria do Big Bang, Geologia (decaimento dos materiais) e outros pontos mais.

   Uma vez que eu sei que o universo teve início sei que ele foi causado, mas pelo que? Será que essa pergunta não é científica? Por que não?

   Segundo Einstein matéria, espaço e tempo passaram a existir ao mesmo tempo, portanto a causa é imaterial, atemporal e não espacial. Sabemos também que tudo se transforma dentro do tempo. Como a causa é atemporal, ela é imutável. Além disso seja lá o que for que causou o universo, ela criou simplesmente tudo o que conhecemos a partir do nada. Portanto ela é infinitamente mais poderosa do que podemos imaginar. E essa causa tem o poder de decidir, pois decidiu transforar o nada em matéria, espaço e tempo.

   Poderia até falar sobre o aspecto artístico mostrando a beleza do universo e a inteligência por causa do perfeito funcionamento, mas teria que me alongar demais.

   As características citadas até então sobre a causa não provam que o causador do universo é Deus ou mais especificamente o Deus bíblico, mas que as características de ambos são muito semelhantes isso ninguém pode negar.


Eu não entendo nada de Física Quântica.

   Bem vinda ao mundo, somos vários.

O máximo que consegui absorver foi que os pesquisadores têm se debatido com a intrigante questão de que a matéria em nível subatômico pode se comportar como ondas e como partículas, e daí tem-se que a natureza é intrinsecamente indeterminista, ou por outra, não segue padrões esquematizados, estáticos, em nível subatômico. Aliás, foi discutindo essa questão que Einstein disse que “Deus não joga dados”, pois discordava dessa postulação.

   Muitos usam esse contra-argumento para acabar com o argumento cosmolégico. Embora a lei da causalidade fale também de determinismo, as duas coisas não são iguais. O fato de eu não determinar como substâncias subatômicas se movimentem (embora já se tenha ideia que ao tentarmos observar alteramos o movimento dos mesmos) isso não significa que um dia não poderemos determinar e principalmente, não significa que o movimentos um dia não possam ser determinados. Confundir determinismo com causalidade é o erro aqui apresentado.

Pois é. Não entendo nada desse assunto, mas sei com certeza de uma coisa: se há partículas se comportando como ondas e vice-versa, é porque isso é necessário à existência de tudo, sejamos nós, um pé de couve, o Universo.

   Vejam que essa conclusão pode ser feita por um crente da mesma forma. Por que? Mostra que alguém inteligente criou algo para que nós, um pé de couve e o Universo possamos existir.

Entender causas e interdependências é o que tem feito a humanidade progredir, das mais diversas formas, só que esse tem sido um processo longo, de resultados incertos e com vários espaços em branco. Então vemos cientistas religiosos usando os espaços em branco para colocar Deus como a explicação.

   Mentira, esses cientistas querem conciliar naturalismo com religiosidade, como criacionista sei que tudo, inclusive a seleção natural, fazem parte da obra de Deus. Lembrem-se que dentro do cristianismo existem duas alas, os conservadores e os liberais, e esses últimos sempre querendo arrumar alguma coisa para abrir dialogo com o secularismo de maneira geral.

Que percebo que o fato de ser ateia faz as pessoas automaticamente desqualificarem meu argumento, não pelos erros que possa conter, mas pela ausência da crença em alguma divindade. A ausência da crença é o erro. Ou, mais apropriadamente, demonstrar a ausência da crença.

   Já comentei isso acima, mas os ateus fazem o mesmo. A melhor solução seria ambos abrirem a mente dialogar e ver os melhores argumentos, mas se qualquer um dos lados tivessem uma prova definitiva saberíamos que esse tema não estaria mais em discussão. Como estamos falando do passado esse prova nunca virá. Mesmo que a vida seja criada em laboratório isso não significa que no passado ocorreu dessa maneira e nem o contrário. Mas por enquanto a vida não pode ser recriada por homem brilhantes em laboratórios muito mais sofisticados que qualquer cenário de Terra primitiva e mais uma vez o peso ainda esta do lado sobrenatural.

Vou continuar incomodando. Mais do que os elefantes.

Terminarei aqui pela falta de tempo e espaço, mas ao mesmo tempo que a autora afirma continuar incomodando ela por diversas vezes no texto se mostrou incomodada. Opiniões diferentes incomodam, isso não é exclusividade dos ateus, tem algumas duplas que caminham por ai que incomodam muito mais. Mas respeito todos merecem.

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